O Dia das Mães é uma data comemorativa bastante aguardada e celebrada pelos brasileiros. Famílias costumam se reunir para agradecer e exaltar suas matriarcas por toda dedicação, cuidado e carinho distribuídos por elas ao longo da vida.

Mas essa data não costuma ser sinônimo de celebração para muitas mulheres. Ao longo dos séculos, muitas mães brasileiras tiveram seus filhos tirados de seus braços por inúmeros motivos, e acabaram perdendo totalmente o contato com suas crianças. Do outro lado, filhos que cresceram em lares adotivos sonham em conhecer suas mães biológicas e resgatar uma parte perdida de sua própria história.

Reconexões possibilitadas por testes genéticos

Os testes genéticos de ancestralidade já são uma realidade em nossa sociedade e bastante utilizados para desvendar parte de nossa história, como origens e raízes ancestrais. Mas, além disso, eles permitem algo incrível: descobrir pessoas com quem compartilhamos parte de nosso DNA, indicando assim possíveis parentes biológicos.

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Essa ferramenta é utilizada por muitas pessoas que desejam encontrar parentes biológicos, incluindo mães e filhos há muito perdidos. E algumas instituições e voluntários têm dado uma força a pessoas que anseiam por essa reconexão.

Fundação busca desaparecidos pelo mundo

A ONG Pessoas Desaparecidas Brasil e Holanda (PDBeH) foi fundada em 2012 por Liza da Silva, uma cigana iugoslava, a partir de sua pesquisa e investigação para descobrir informações sobre a família biológica de seu marido brasileiro. Liza criou a ONG na Holanda, com intenção de ajudar na busca de pais biológicos no Brasil, e hoje tem auxiliado pessoas de todo o mundo a reencontrar seus familiares.

Segundo a ONG, entre as décadas de 1970 e 1990, muitas crianças brasileiras foram tiradas de suas famílias e levadas ilegalmente para outros países, incluindo a Holanda e outras nações europeias.

O problema ainda é atual no Brasil, e tem inspirado documentários e novelas que abordam o tema como forma de sensibilização. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 370 mil registros de pessoas desaparecidas foram feitos nos últimos cinco anos, o que dá uma média de 203 casos diários.

Mães brasileiras coletam DNA com kits da Genera

No mês de abril de 2023, a ONG PDBeH proporcionou esperança para cerca de 100 mães brasileiras que buscam por filhos que podem ter sido adotados por estrangeiros. A partir de uma parceria comercial com a Genera, a PDBeH coletou gratuitamente amostras de DNA de mulheres que tiveram que entregar seus filhos ou tiveram os filhos roubados aqui no Brasil.

Assista à reportagem:

Mães: histórias, saudades e esperanças

As mães que tiveram seu DNA coletado pela iniciativa da ONG revelam histórias de vida comoventes. Conheça algumas delas:

Elenilda

Elenilda Maria de Lima tem 50 anos de idade e é moradora da Zona Leste de São Paulo. Em 1987, ela deu à luz um filho. Mas, no dia seguinte ao nascimento, enquanto Elenilda ainda se recuperava do parto, a avó dela entregou a criança para adoção, sem o consentimento da mãe.

“No dia do aniversário dele e datas especiais como Natal e Dia das Mães, para mim causam dor”, desabafa Elenilda. “Eu nunca perdi as esperanças de encontrar meu filho. Já anunciei em redes sociais, falei em programas de rádio, mas continuo na busca pelo meu filho”.

Aldeci

Com 64 anos de idade e residente na cidade de Guarulhos, em São Paulo, Aldeci Oliveira também busca uma filha perdida. Aldeci teve quatro filhos, quando ainda era muito nova e, voluntariamente, entregou três de seus filhos para que outras pessoas com melhores condições pudessem cuidar.

Aldeci retomou contato com dois desses filhos, mas desconhece o paradeiro da filha Josilene, que hoje teria 42 anos. Josilene foi entregue para um casal desconhecido, possivelmente de fora do Brasil, por uma terceira pessoa. “Eu espero encontrar Josilene, mesmo que ela não queira me ver. Mas pelo menos poderá conhecer seus irmãos”.

Maria

Em 1973, quando seu filho mais velho nasceu, Maria Batista ficou muito doente. Sua mãe deixou a criança com duas pessoas conhecidas da família, para que cuidassem do bebê até que Maria se recuperasse e tomasse a criança de volta. Mas elas desapareceram com a criança e nunca mais Maria teve notícias de seu filho.

“Às vezes eu ia para algum lugar e, ao ver um garoto, ficava imaginando se ele poderia ser meu filho. Isso é muito agoniante, muito triste”, revela Maria, com esperanças de reencontrar o filho. “Não sei o que disseram a ele, mas quando encontrá-lo a minha primeira reação será de dar um grande abraço e aconchegá-lo como se ainda fosse o meu bebê.

Qual o destino das amostras de DNA coletadas?

A primeira coleta de DNA promovida pela ONG PDBeH ocorreu em abril, no auditório da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), na capital paulista. “Essa ação é inédita no Brasil”, ressalta Liza da Silva, ao afirmar que os testes genéticos serão oferecidos também a mães residentes nas cidades de Campina Grande/PB e Fortaleza/CE.

Os resultados das genitoras serão cadastrados em um banco internacional de perfis genéticos, pelo qual será permitida uma avaliação de compatibilidade com crianças e adultos espalhados pelo mundo. Essa ação nos enche de esperança de que mães e filhos perdidos possam se reencontrar e, finalmente, celebrar juntos os próximos Dias das Mães e demais datas especiais.

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