Em um outro conteúdo, falamos sobre a ancestralidade da música brasileira, e das bases que formaram nossa cultura. Mas como isso acontece para cada um dos nossos principais estilos musicais? Continue a leitura para saber mais sobre o DNA de 28 ritmos brasileiros!

| Saiba mais: A ancestralidade da música brasileira

1. Axé

O axé music é o ritmo dos famosos blocos de rua e micaretas. Surgiu na Bahia durante a década de 1980, durante as manifestações populares de carnaval. Em seu DNA, há uma mistura de vários ritmos, especialmente afro-brasileiros e afro-latinos, com destaque para:

  • Ijexá, originário da Nigéria e trazido ao Brasil pelos povos escravizados
  • Merengue, ritmo afro-latino. Com raízes angolanas, é bastante popular em países latinos e caribenhos
  • Pop rock e raggae
  • Ritmos do candomblé
  • Outros ritmos brasileiros, como samba, frevo e forró

Os pioneiros desse gênero musical foram os músicos da banda Acordes Verdes, que acompanhavam o cantor e compositor Luiz Caldas. Ouça a seguir uma das primeiras músicas do axé music:

2. Baião, xote e xaxado

Esses estilos musicais são derivados das mesmas origens e, portanto, bastante parecidos, assim como o forró. Considerando o baião, esse gênero se popularizou na década de 1940, no Nordeste, e alcançou rapidamente todo o país através das rádios brasileiras. Entretanto, já era um gênero de dança popular comum na região durante o século XIX.

Sua musicalidade foi feita para dançar agarradinho e no ritmo arrasta pé. Conta com uma forte instrumentalização, com a presença de violas, acordeão ou sanfona, pandeiro, triângulo, flauta doce, zabumba e rabeca. Este último é um instrumento característico do baião. Além disso, em suas letras, costuma retratar o sofrimento dos sertanejos. No DNA do baião estão os seguintes ritmos:

  • Lundu, de origem africana, foi provavelmente introduzido no Brasil por escravos trazidos da Angola
  • Modas de viola e músicas caipiras
  • Danças indígenas
  • Xote, ritmo musical e dança de salão de origem centro-europeia

Quem popularizou o baião foi no artista pernambucano Luiz Gonzaga, que inseriu elementos de outros ritmos, como samba e conga cubana. Ouça uma música de bastante sucesso do cantor e compositor

3. Bossa Nova

A Bossa Nova é um dos gêneros musicais brasileiros que mais fazem sucesso no exterior. Foi, na verdade, um movimento urbano do fim dos anos 1950 que ocorria em sarais de amigos músicos e boêmios, que se reuniam para cantar, tocar instrumentos e curtir a vida. A origem da Bossa Nova é 100% carioca, mas logo o gênero se tornou parte da história não só da música brasileira mas do próprio país.

No início, apenas cantavam o samba de uma forma diferente, mas logo foram incorporados elementos do jazz, gênero musical nascido entre 1890 e 1910 em Nova Orleans, nos Estados Unidos e que, por sua vez, foi inspirado no blues. Podemos encontrar no DNA da Bossa Nova:

  • Samba
  • Jazz, nascido nos Estados Unidos
  • Blues, ritmo originalmente cantado pelos negros escravizados enquanto trabalhavam nas fazendas dos Estados Unidos
  • Impressionismo, presente especialmente nas obras de Debussy e Ravel, compositores franceses inspirados nos conceitos das pinturas impressionistas

Entre os pioneiros da Bossa Nova, destacamos Nara Leão, anfitriã que recebia os músicos em sua casa para dar vida ao novo gênero musical. Destacamos também os músicos Vinícius de Moraes e Antonio Carlos Jobim, criadores da canção “Chega de Saudade”, considerada a música que inaugura a Bossa Nova. Ouça-a na voz de Nara Leão:

4. Brega

A música brega abrange diversos ritmos musicais, o que dificulta definir uma estética específica. Anteriormente, era um termo usado de forma pejorativa para música popular romântica das décadas de 1940 e 1950, que normalmente abordava em suas letras as desilusões amorosas, ingenuidade e exageros dramáticos.

Com o tempo, passou a englobar músicas consideradas de baixa qualidade, pouco valor artístico, deselegantes e cafonas do ponto de vista das elites, incluindo grandes nomes do samba, sertanejo e até da MPB, como Alcione e Gal Costa. Em seu DNA, encontramos, principalmente:

  • Bolero, ritmo cubano que mescla raízes espanholas e influências locais de vários países hispano-americanos
  • Samba-canção, um subgênero musical originário do samba

Desde 2021, a música brega é reconhecida como patrimônio cultural no estado do Pará e, também, na cidade de Recife, em Pernambuco. Um dos grande nomes da música popular romântica, muitas vezes designado como brega, é o músico Cauby Peixoto.

5. Calypso

O gênero musical calypso, também chamado de brega-pop, surgiu em Belém, no Pará, misturando diversos elementos de outros ritmos regionais e, também, de estilos musicais afro-caribenhos, incluindo o calipso, originário de Trinidad e Tobago e que inspirou o seu nome.

O calypso surgiu na década de 1990, em show e bailes da periferia de Belém, quando músicos locais decidiram unir o tradicional brega regional a ritmos da música caribenha. No DNA do calypso, encontramos as seguintes raízes:

  • Brega regional
  • Ritmos regionais como lambada, carimbó, guitarrada, siriá
  • Ritmos afro-caribenhos como calipso, ska, reggae

Atualmente, uma das bandas que mais representa esse gênero tem o mesmo nome: a Calypso, na voz da cantora e dançarina Joelma. Ouça uma de suas músicas de maior sucesso:

6. Carimbó

O carimbó (ou curimbó) é uma manifestação cultural afro-indígena brasileira, composta por música e dança, com origem no Pará, e remonta ao século XVII. Tornou-se uma celebração entre amigos e familiares após pescarias e plantios, e conta com o batuque de um tambor artesanal chamado curimbó – e que deu seu nome ao gênero musical.

Por volta de 1890, chegou a ser proibido em Belém e criminalizado pelo Governo. Mas, nas últimas décadas, foi resgatado como música regional e matriz rítmica de gêneros contemporâneos, como lambada e calypso. Em seu DNA, o carimbó tradicional tem as seguintes origens:

  • Celebrações indígenas ancestrais, especialmente dos povos tupinambás
  • Culturas africanas dos negros escravizados levados ao Pará

Atualmente, tanto o carimbó recebe influências de gêneros modernos quanto tem influenciado ritmos brasileiros. A seguir, ouça uma música do artista contemporâneo Pinduca, considerado Rei do Carimbó. O disco foi indicado em 2017 ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Raízes Brasileiras.

7. Forró

O forró, na verdade, é uma festa originária de Pernambuco e disseminada por todo o Nordeste, e engloba diferentes estilos de dança e gêneros musicais, como o xote, baião, arrasta-pé e o xaxado. Suas origens remontam a antigas celebrações indígenas e africanas. É bastante popular nas festas juninas e, em 2021, o forró foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil.

Como gênero musical específico, o forró foi criado em 1958 por Luiz Gonzaga, o mesmo músico que popularizou o baião na década de 1940. Por terem as mesmas raízes, esses estilos musicais são bastante parecidos, caracterizados pelo trio instrumental composto por acordeão (sanfona), zabumba e triângulo.

Com sua popularização, o forró passou a receber influências de ritmos mais modernos, e instrumentos como bateria, guitarra e baixo elétrico foram inseridos oficialmente ao gênero. O forró contemporâneo (ou estilizado) tem em seu DNA as seguintes influências:

  • Ritmos indígenas e afro-brasileiros
  • Baião, xote e xaxado
  • Xote, ritmo musical e dança de salão de origem centro-europeia
  • Outros gêneros brasileiros, como lambada e axé music
  • Música pop, que se originou durante a década de 1950 nos Estados Unidos e Reino Unido

O precursor do forró estilizado foi o produtor musical e empresário Emanuel Gurgel, responsável por diversas bandas, como a Mastruz com Leite. Ouça uma das primeiras música dessa banda:

8. Frevo

O frevo é um ritmo musical e uma dança brasileira, com origem em Pernambuco no fim do século XIX. É formado pela fusão de diferentes outros gêneros musicais brasileiros, enquanto sua dança é influenciada pela capoeira. O frevo é caracterizado por um ritmo bastante acelerado e é muito executado durante o carnaval. Em 2012, foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

No DNA do frevo, encontramos os seguintes ritmos:

  • Marcha, um estilo musical feito originalmente para marchar, e por isso é bastante executado por bandas militares. Os primórdios da marcha vem desde a Antiguidade, incluindo Grécia Antiga e Império Romano, pois a música ajudava no movimento das tropas.
  • Dobrado, um subgênero musical da marcha, popular entre as bandas militares do Brasil
  • Danças como maxixe (tango brasileiro)
  • Capoeira
  • Polca, dança popular na República Checa

O primeiro frevo gravado data de 1922, com o nome “Borboleta Não É Ave”, de Nelson Ferreira e J. Diniz. Ouça abaixo:

9. Funk

Das nossas periferias para o mundo, o funk se consolidou como parte da cultura brasileira e tem ganhado projeção internacional. Entre as décadas de 1950 e 1960, ritmos dos Estados Unidos começaram a influenciar os gostos musicais por aqui. Na década de 1970, as produções nacionais inspiradas nesses ritmos movimentavam os bailes das áreas mais nobres do Rio de Janeiro, mas, com o advento da MPB, o funk, que ainda era cantado em inglês, ganhou as periferias cariocas e, em pouco tempo, as periferias de todo o Brasil.

Nas periferias, principalmente as do Rio, o funk se tornou um gênero brasileiro, com letras totalmente em português e que retratavam a realidade das favelas. A bateria eletrônica foi adicionada à batida da música e logo ganhou influência da música pop, que projetou o funk mundo afora, como um dos gêneros musicais mais representativos do Brasil. Hoje, o funk influencia ritmos musicais fora do país. O funk brasileiro atual tem em seu DNA:

  • Funk norte-americano
  • Ritmos norte-americanos, como soul, rhythm and blues (R&B), hip-hop e gospel
  • Expressões culturais afro-brasileiras
  • MPB
  • Pop

Ouça uma das músicas de funk mais famosas, com participação de DJ Marlboro, um dos pioneiros do gênero:

10. Guitarrada

Guitarrada é um gênero musical instrumental brasileiro. Foi criado em 1978 pelo músico e instrumentista Mestre Vieira, no Pará, a partir da fusão de diversos ritmos brasileiros, latinos e caribenhos. De modo especial, a guitarra elétrica é predominantemente solista. Em seu DNA, encontramos as seguintes ancestralidades musicais:

  • Choro, um estilo de tocar que os músicos brasileiros imprimiam às danças de salão europeias
  • Ritmos brasileiros, como carimbó e brega, entre outros
  • Ritmos latinos e caribenhos, especialmente de Cuba, como merengue, cúmbia, mambo, bolero e outros

Ouça, a seguir, a música “Guitarreiro do Mundo”, de Mestre Vieira:

11. Lambada

A lambada é um gênero musical do Norte do Brasil, com origem no estado do Pará. Surgiu primeiro como o nome de uma canção de carimbó de 1976, do músico Pinduca. Mas, como um ritmo musical, só foi criada anos depois, pelo músico Manoel Cordeiro, que misturou o carimbó com o ritmo metálico e eletrônico do Caribe. Logo, a lambada fez tanto sucesso como música e dança que até influenciou uma banda franco-brasileira chamada Kaoma.

Nacionalmente, o gênero lambada só fez sucesso após grande repercussão internacional, e artistas estrangeiros, especialmente franceses, compraram os direitos de centenas de produções brasileiras. No DNA da Lambada encontramos:

  • Carimbó
  • Forró
  • Ritmos caribenhos e latinos, como o merengue
  • Cúmbia, um gênero musical da Colômbia

Inspirada pela canção “Llorando se fue”, do grupo boliviano Los Kjarkas, a banda Kaoma lançou “Lambada”, que se tornou um grande sucesso. Em 2011, a cantora porto-riquenha Jennifer Lopez readaptou a música com um ritmo eletrônico e lançou “On the Floor”. Ouça a seguir a música original da banda Kaoma:

12. Lambadão

O lambadão cuiabano é um estilo de música e dança característico da baixada cuiabana, no estado de Mato Grosso. Consiste em um ritmo acelerado e característico da periferia. Assim como outros gêneros nascidos na periferia, sofre com o preconceito das camadas mais elitizadas, principalmente com as danças mais sensuais. Em 2009, ocorreu o Primeiro Festival de Lambadão de Cuiabá.

O estilo surgiu por volta de 1990, resultado da fusão entre outros ritmos brasileiros. Contudo, sua história remonta às décadas de 1970 e 1980, quando garimpeiros migraram para o Norte em busca de ouro e, não o encontrando, retornaram à região de Cuiabá trazendo consigo os ritmo do Pará. Em um ritmo acelerado e com bastante swing, as músicas do lambadão costumam ser acompanhadas por letras românticas ou jocosas. No DNA do lambadão encontramos:

  • Lambada paraense
  • Carimbó
  • Rasqueado, um ritmo folclórico regional, com influência da polca paraguaia

O lambadão ganhou repercussão nacional com a música “Ei, amigo”, do cantor e compositor Chico Gil, que ficou conhecido como Rei do Lambadão:

13. Manguebeat

O Manguebeat é um movimento de contracultura que surgiu em Recife, Pernambuco, no início da década de 1990. O movimento defende a valorização das culturas regionais do Nordeste, o desenvolvimento de uma identidade própria e a preservação e conservação do manguezal, além de criticar as condições de vida da população local.

Seu ritmo mescla elementos da cultura regional de Pernambuco com elementos da cultura pop. No DNA do Manguebeat encontramos as seguintes ancestralidades:

  • Ritmos regionais, como maracatu e frevo
  • Rock, hip hop, funk e música eletrônica
  • Danças regionais e festas populares regionais afro-brasileiras, como coco, cavalo-marinho e ciranda, que têm influências de batuques africanos e bailados indígenas

Um dos maiores colaboradores e precursores do movimento é o músico Chico Science, junto à banda Nação Zumbi. Ouça uma de suas músicas mais tocadas:

14. Marabaixo

O marabaixo é uma expressão cultural afro-brasileira do Amapá, no Norte do Brasil, que une música, dança, vestimenta e espiritualidade. Sua origem é imprecisa, mas remonta à época da escravidão negra, e o próprio nome pode ter origem na expressão “mar abaixo”, em referência aos navios negreiros. O ritmo foi incorporado às festas populares locais do catolicismo, em louvor aos santos padroeiros e de devoção das comunidades afrodescendentes.

O ritmo certamente é africano, trazido pelos negros escravizados de diferentes etnias. Alguns pesquisadores apontam, ainda, similaridade com culturas do Marrocos, pela proximidade de Macapá com a cidade de Mazagão Velho, que teve influência marroquina. No marabaixo há o uso de um instrumento típico, uma espécie de tambor chamado caixa de marabaixo, cujo batuque acompanha a dança e cantigas chamadas de “ladrão”, tipo de poesia oral musicada. No DNA do Marabaixo temos:

  • Ritmos africanos
  • Catolicismo popular

Ouça uma música de Negro de Nós, uma banda local, e que traz na letra um pouco da história do marabaixo:

15. Maracatu

O maracatu é uma expressão folclórica e cultural afro-brasileira que une ritmo musical, dança e espiritualidade, além de figurinos extravagantes que remetem à cultura africana, indígena e portuguesa. Tem origem em Pernambuco, com data incerta, mas o primeiro registro é de 1711.

Se divide em dois tipos, ambos com características próprias: Maracatu Nação e Maracatu Rural. O ritmo vem se transformando ao longo do tempo, e é reconhecido como patrimônio cultural do Brasil. Encontramos no DNA do maracatu:

  • Coroação dos reis do Congo
  • Celebrações de diversas etnias africanas
  • Religiões brasileiras de raiz africana, como candomblé
  • Expressões culturais africanas, indígenas e portuguesas

Ouça uma música do grupo Leão Coroado, um dos mais tradicionais de Recife:

16. MPB

A Música Popular Brasileira (MPB) surgiu em meados da década de 1960, na cidade do Rio de Janeiro, como uma segunda geração da bossa nova, porém com uma forte influência do folclore brasileiro e da cultura popular. Ou seja, é considerado uma mistura da sofisticação musical com a fidelidade à música de raiz brasileira. Com o golpe militar de 1964, tornou-se bandeira de luta contra o regime ditatorial.

A MPB começou com um perfil nacionalista, mas aos poucos foi incorporando elementos de vários outros gêneros musicais, dando-lhe a diversidade como marca característica. Em seu DNA, temos:

  • Bossa nova
  • Samba
  • Choro, um estilo de tocar que os músicos brasileiros imprimiam às danças de salão europeias
  • Modinha, estilo musical de canção sentimental brasileiro, de origem portuguesa e com influência da ópera italiana

A música “Como nossos pais”, composta na década de 1970 por Belchior e imortalizada na voz de Elis Regina, se tornou um dos maiores clássicos de MPB.

17. Música Erudita

A música erudita, por muito tempo, foi considerada a única de qualidade pela elite cultural, especialmente por sua relação com a expressão artística europeia. Até o início do século 18, era praticada apenas nos estados da Bahia e Pernambuco. Mas o Classicismo chegou de vez ao Brasil em 1808, junto com a corte real de Dom João. Foi nesse período que surgiu o padre José Maurício Nunes Garcia, o primeiro grande compositor brasileiro.

Contudo, nem a música erudita escapou da influência deste país tropical. O renomado compositor e maestro Heitor Villa-Lobos quis trazer elementos peculiarmente brasileiros a suas composições, inspirado por canções populares e ritmos indígenas e africanos presentes na cultura popular brasileira. Villa-Lobos é considerado o maior expoente da música do Modernismo no Brasil, e muitos estudiosos o consideram como uma influência para ritmos como Bossa Nova e MPB.

No DNA da música erudita brasileira, encontramos:

  • Coros litúrgicos e religiosos do catolicismo
  • Ópera-bufa, gênero cômico nascido na Itália e que se espalhou pela Europa
  • Música clássica europeia
  • Canções populares e ritmos indígenas e afro-brasileiros

Ouça, a seguir, “O trenzinho do caipira”, composição de Villa-Lobos, cuja melodia se assemelha ao som do trem:

18. Música gauchesca

A música gaúcha – ou gauchesca – é um termo geral usado para se referir ao conjunto de músicas da cultura gaúcha, que além do Rio Grande do Sul, também é difundida nos demais estados do Sul – Santa Catarina e Paraná. O gênero engloba, por exemplo, a música tradicionalista e a música nativista, que em seus diferentes estilos abordam o folclore e a cultura sulista, falando de sua conexão com temas como o campo, natureza, culinária regional e também o amor por sua terra natal.

Entre os instrumentos mais utilizados na música gauchesca estão o acordeão, viola caipira, violão, guitarra, baixo, violino, flauta e bateria. Atualmente, há vertentes da música gauchesca, como a Tchê Music, que buscam modernizá-la, incluindo elementos de outros ritmos brasileiros. No DNA da música gauchesca encontramos:

  • Parnasianismo, escola literária que valoriza coisas da natureza e do ambiente
  • Influências musicais folclóricas dos países vizinhos Uruguai, Paraguai e Argentina, como o milonga e chamamé
  • Música flamenca espanhola
  • Música portuguesa
  • Ritmos e danças de raízes alemãs, como vanera
  • Cultura caipira

Ouça a seguir uma música do grupo Os Serranos, um dos conjuntos mais tradicionais do Rio Grande do Sul:

19. Pagode

O pagode é um gênero musical derivado do samba, e que se tornou bastante distinto. Tem sua origem no final da década de 1970, no Rio de Janeiro, a partir da tradição das rodas de samba feitas nos fundos de quintal, adotando um estilo mais romântico do gênero.

O termo pagode, contudo, é usado desde, pelo menos, o século XIX, para designar as festas que aconteciam nas senzalas e, mais tarde, para qualquer festa regada a bebidas e cantoria. Como gênero musical, o pagode nasce da manifestação popular marginal aos acontecimentos musicais dos grandes meios de comunicação. No DNA do pagode encontramos:

  • Samba
  • Celebrações africanas
  • Expressões culturais das favelas cariocas

O pagode se popularizou a partir do encontro entre a artista Beth Carvalho com o grupo Fundo de Quintal. A canção “Vou festejar” tornou-se a mais tocada no carnaval da época de até hoje é uma das mais ouvidas do gênero.

20. Pisadinha

A pisadinha é um ritmo musical surgido nos anos 2000, na Bahia, se tornando um grande sucesso nas regiões Norte e Nordeste. É caracterizada pela união do teclado eletrônico com a voz, mas também conta com instrumentos como bateria, sanfona, contrabaixo, guitarra, percussão e saxofone. O gênero tem influências de outros ritmos brasileiros e em seu DNA encontramos:

  • Xote, ritmo musical e dança de salão de origem centro-europeia, bastante executado no forró
  • Lambada e forró, ritmos brasileiros
  • Tecno-brega, variação da música brega

A banda Os Barões da Pisadinha é um dos grupos com mais notoriedade no gênero. Ouça uma de suas músicas de maior sucesso:

21. Piseiro

O piseiro é uma variação da pisadinha. Surgiu na década de 2010, no estado da Bahia. Além de ser derivado do forró, possui elementos do funk. Assim, tem batida mais rápidas, propondo uma dança solo. Em seu DNA temos:

  • Pisadinha
  • Forró
  • Funk
  • Música brega

O cantor e compositor Vitor Fernandes é um dos nomes responsáveis pelo sucesso do piseiro, e não é à toa que é conhecido como “Rei do Piseiro”. Ouça uma de suas músicas:

22. Pop

O pop brasileiro é um gênero atual derivado do pop internacional, que se originou nos Estados Unidos e Reino Unido durante a década de 1950. A música pop é bastante eclética e incorpora elementos de outros ritmos e estilos musicais, como urban, dance, rock, música latina, soul e country. Se origina do pop clássico americano, do folk e rock and roll.

No Brasil, contudo, principalmente a partir dos anos 2000, o pop brasileiro ganhou muitos elementos dos demais ritmos brasileiros, tornando-se um gênero único, que tem despontado globalmente. Contudo, o pop brasileiro também tem suas raízes no rock nacional. Desde os anos 1980, em um cenário de transição política, músicos e grupos brasileiros passaram a utilizar elementos do pop internacional, surgindo assim as primeiras bandas nacionais de pop rock.

Alguns artistas independentes têm chamado o pop brasileiro de B-Pop, como inspiração do K-Pop, apesar de ter surgido anteriormente a este. No DNA do pop brasileiro, estão as seguintes ancestralidades musicais:

  • Pop norte-americano e britânico
  • Estilos musicais como rock, rap, trap, hip-hop, rhythm and blues (R&B), blues, jazz, country, dance
  • Música eletrônica
  • Bossa Nova e MPB
  • Rock nacional
  • Outro ritmos brasileiros, como samba, funk, forró, brega
  • Ritmos latinos, como reggaeton

Em referência direta à canção “Garota de Ipanema”, composição de Tom Jobim e um clássico da Bossa Nova , a artista Anitta lança internacionalmente a música em inglês “Girl from Rio”, com elementos de outros ritmos brasileiros, como o funk.

23. Reggae

O reggae surgiu na década de 1960, na Jamaica, e teve como principal ícone o cantor e compositor Bob Marley. Tem sua origem no ska e rocksteady, estilos muito conhecidos no país durante as décadas de 1950 e 1960, e tem também elementos de outros ritmos, como R&B, jazz e soul. Também teve influência do movimento religioso Rastafari e de expressões culturais africanas.

No Brasil, o reggae chegou entre as décadas de 1960 e 1970, e encontrou na cidade de São Luís, capital do Maranhão, o seu berço brasileiro. E, como todo estilo que aqui chegou, passou a incorporar elementos dos ritmos nacionais. O reggae influenciou muitos artistas brasileiros, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, e até bandas de rock nacional, como Paralamas do Sucesso. No DNA do nosso reggae, encontramos:

  • Reggae jamaicano
  • Elementos de ritmos brasileiros
  • Manifestações culturais afro-brasileiras

A banda Tribo de Jah foi uma das responsáveis pela difusão e fortalecimento do reggae brasileiro. Ouça uma de suas canções:

24. Rap

O rap é um gênero musical que pertence ao movimento Hip-hop. Sua origem remonta às músicas tocadas nos guetos da Jamaica, na década de 1960. O ritmo foi levado, na década de 1970, para os bairros pobres de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Lá, jovens negros e de origem latina lhe deram um novo significado.

Chegou ao Brasil no final dos anos 1980. Foi na praça Roosevelt, na cidade de São Paulo, local onde o movimento punk surgia, que o rap ganhou seu espaço. Por estar presente nas favelas e periferias, o rap sofreu preconceito, ao ser associado ao crime e violência. O rap está presente em todos os estados brasileiros, adquirindo elementos locais.

Por ser um gênero musical marginalizado e fazer críticas sociais, dando voz e visibilidade a minorias sociais, o rap brasileiro estourou a bolha que outros países não conseguiram e se popularizou entre populações também marginalizadas e, hoje, possui vasta representatividade. No DNA do rap brasileiro, temos as raízes musicais:

  • Movimento Hip-hop americano
  • Rhythm and blues (R&B)
  • Músicas dos guetos jamaicanos
  • Ritmos afro-americanos, como funk e jazz
  • Expressões culturais afro-brasileiras
  • Reggae

Racionais MC’s é o maior grupo de rap do Brasil. Está entre os grupos musicais mais influentes do país e da música brasileira. Ouça uma de suas primeiras canções, que muito simboliza o rap brasileiro:

25. Rasqueado

Rasqueado é um gênero musical com origem em Cuiabá, capital do Mato Grosso. Surgiu no final da Guerra do Paraguai (1864 – 1870), a partir da interação entre refugiados paraguaios com os ribeirinhos mato-grossenses. Existem duas grandes variações de rasqueado: o cuiabano e o sul-matogrossense. Em seu DNA, encontramos:

  • Gêneros musicais de países fronteiriços, como guarânia e polca paraguaia (Paraguai) e o chamamé (Argentina)
  • Cultura popular ribeirinha mato-grossense
  • Danças folclóricas locais, como o siriri mato-grossense e o cururu

Ouça, a seguir, uma música do canto e compositor João Eloy, um dos maiores defensores da valorização do rasqueado e da cultura mato-grossense:

26. Rock

Originado nos Estados Unidos na década de 1950, o rock é uma variação do gênero rock and roll, que por sua vez surgiu nos anos 1940. Também conta com elementos dos ritmos electric blues, folk, country e blues. No Brasil, o rock chegou no final da década de 1950, e logo se popularizou, incorporando elementos de outros ritmos brasileiros.

No ano de 1957 foi gravado o primeiro rock original em português, “Rock and Roll em Copacabana”, canção escrita por Miguel Gustavo e gravada por Cauby Peixoto. Muitos artistas aderiram ao gênero e gravaram versões brasileiras de sucessos internacionais, para depois começar a estourar nas rádios as composições originais. O cantor Roberto Carlos se torna, então, o maior ídolo do rock brasileiro dos anos 1960 e um dos maiores nomes da música brasileira.

Na década de 1960 houve até uma briga entre os artistas de MPB e os músicos de rock, uma vez que os primeiros defendiam o nacionalismo da música brasileira contra as influências norte-americanas simbolizadas pelo uso da guitarra elétrica no rock. Dessa briga entre os gêneros, e em meio ao golpe militar e repressão às expressões artísticas, os estilos musicais se uniram e trocaram influências, surgindo assim o movimento Tropicália, uma vertente da MPB que misturava ritmos nacionais com um toque de rock psicodélico, e a banda de rock “Os Mutantes“, com seu som inovador.

Já na década de 1990, com o surgimento da MTV Brasil e da ascensão dos videoclipes, o rock nacional ganhou um novo impulso e muitas bandas brasileiras surgiram, adotando elementos de outros gêneros, como pop, funk, reggae e, nas bandas mais alternativas, estilos como samba, forró e sertanejo. No DNA do atual rock nacional, temos as seguintes ancestralidades musicais:

  • Gêneros norte-americanos, como rock and roll, rock, blues, folk e country
  • Bossa Nova e MPB
  • Gêneros como pop, funk e reggae
  • Ritmos brasileiros como samba, forró e sertanejo

Embora houvessem artistas anteriores, os primeiros ídolos do rock nacional foram os irmãos Tony e Celly Campelo. Celly estourou, em 1959, com o lançamento do álbum “Estúpido Cupido”, que teve 120 mil cópias vendidas. Abaixo, ouça a música que dá nome ao álbum:

27. Samba

O samba teve origem no início do século XX, entre as comunidades afro-brasileiras urbanas do Rio de Janeiro. Suas raízes se encontram nas expressões culturais da África Ocidental, trazidas pelos negros escravizados, e também nas tradições folclóricas brasileiras. É considerado um dos mais importantes fenômenos culturais do país, sendo considerado um de seus símbolos.

A palavra samba, que tem raiz africana, já existia na Língua Portuguesa ao menos desde o século XIX, usada como sinônimo de dança popular ao som de batuque. Assim, em sua forma primitiva, o samba engloba as diferentes expressões afro-brasileiras de dança e música que surgiam no Brasil colonial. Mas foi nos terreiros e favelas do Rio de Janeiro que o samba emergiu como gênero musical, especialmente com o fim da escravidão, quando muitos negros migraram da Bahia para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida, levando para a cultura carioca o samba de roda baiano.

No DNA do samba, encontramos:

  • Danças e ritmos africanos
  • Sincretismo religioso nas celebrações católicas
  • Religiões brasileiras de raiz africana
  • Danças de tradição rural, especialmente o samba de roda baiano

Embora existam canções anteriores, a música “Pelo Telefone”, composta por Donga e Mauro de Almeida, é considerada o primeiro samba a ser gravado no Brasil, no ano de 1917.

28. Sertanejo

A música sertaneja é um gênero brasileiro produzido a partir da década de 1910 e, atualmente, considerando todas as suas vertentes, é o estilo mais ouvido no Brasil. O instrumento predominante na música sertaneja é a viola, e suas músicas também podem ser chamadas de modas ou emboladas. O sertanejo tem origem na música caipira, que historicamente teve início com o bandeirismo, um movimento de desbravamento e ocupação do interior do país, formado por sertanistas paulistas.

A cultura caipira se consolidou nos estados desbravados pelos bandeirantes, que incluem São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Tocantins e Mato Grosso. São nesses mesmos estados onde hoje a música sertaneja é mais popular. Contudo, foi nas roças do interior paulista que surgiu a figura do homem caipira, e onde a sua música ganhou corpo e notoriedade.

Com o decorrer dos anos, a música sertaneja foi recebendo influências e adquirindo elementos de outros ritmos brasileiros, fragmentando-se em diferentes vertentes, como a música sertaneja raiz, o sertanejo universitário e o feminejo. O sertanejo tem, em seu DNA, as seguintes ancestralidades musicais:

  • Música caipira dos bandeirantes e cantos tradicionais rurais
  • Vivências dos habitantes do sertão, nas regiões Nordeste e Sudeste
  • Catira e cururu, danças folclóricas caipiras, com raízes europeias, africanas e indígenas
  • Ritmos latinos, especialmente do Paraguai e Argentina, como guarânia, polca paraguaia e chamamé
  • Xote, ritmo musical e dança de salão de origem centro-europeia
  • Fado, estilo musical português
  • Ritmos do ritual católico da Folia de Santos Reis
  • Vanerão, dança típica do Rio Grande do Sul
  • Pagode de viola, ritmo variante da música sertaneja criado em 1959 na cidade de Maringá, Paraná
  • Bachata ou seresta, uma dança e gênero musical da República Dominicana, considerada um híbrido de bolero, tango e outros ritmos latinos
  • Nas vertentes mais modernas, há elementos de outros gêneros, como samba, rock, country, blues, MPB, pop e música eletrônica

Embora existam outras músicas caipiras anteriores, a canção “Jorginho do Sertão”, criada em 1929 por Cornélio Pires, é considerada oficialmente como a primeira moda de viola gravada no Brasil. Ouça-a abaixo:

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