
Já imaginou encontrar o seu par ideal a partir da genética?
Sentimentos e emoções são resultado de ações hormonais coordenadas pelo nosso sistema nervoso. Medo, raiva, apatia, empatia e amor são apenas alguns dos vários sentimentos que temos naturalmente enquanto seres humanos. Por serem fenômenos biológicos, é de se esperar que variações genéticas exerçam influência sobre a intensidade e, até mesmo, a natureza destes sentimentos. Bateu a curiosidade em relação às conexões entre a genética e o amor?
Pois te contamos aqui algumas dessas relações — a partir de um olhar mais científico, embora não menos apaixonado, sobre o tema.
A genética do amor em sua forma primitiva
Há, nos animais em geral, um importante componente para identificarmos a Genética do Amor, chamado complexo de histocompatibilidade — conhecido como MHC. Trata-se de uma série de proteínas expressas na membrana celular que participam da comunicação entre as células do sistema imune. Em resumo, o complexo MHC é o responsável por diferenciar as células endógenas (aquelas que pertencem ao corpo do hospedeiro) e as exógenas (potenciais invasores).
Em seres humanos, o MHC é conhecido como HLA (human leucocyte agent, ou agentes de leucócitos humanos), mesmo nome dos genes que transcrevem o complexo. Os alelos HLA podem ser divididos em três classes (I, II e III) e são herdados de geração em geração. Há diversos indícios de que, além de mediar a resposta imune, o HLA também possua influência na composição dos odores corporais, o que acaba por situá-lo em uma posição central em várias “formas de amor”. Como os bebês recém-nascidos, por exemplo, reconhecem sua mãe pelo cheiro, é provável que o amor “materno” seja também consequência do reconhecimento da mesma classe de HLA.
Uma evidência indireta desse fenômeno é descrita em um estudo da Universidade de Dresden, na Alemanha, no qual foi elucidado que a atração sexual é muito mais provável de acontecer entre portadores de HLAs de classes diferentes.
A Genética do Amor: solteiros x casados
Que a serotonina é um neurotransmissor relacionado à felicidade e à euforia, muitas pessoas já sabem. O que talvez seja novidade é o fato de que algumas variações em um de seus receptores — em especial o 5-HTA1 — podem levar algumas pessoas a serem mais propensas a se engajarem em relacionamentos duradouros do que outras.
Um estudo da Universidade de Pequim, na China, elucidou a relação entre variantes do gene HTR1A e o estado matrimonial de seus portadores. A conclusão foi que há uma relação significativa entre a presença do alelo CC e estar em um relacionamento duradouro. Foi a primeira evidência científica de que existe uma relação entre composição genética e a probabilidade de estar em um relacionamento sério.
Síndrome de Williams e o gene FZD9
A síndrome de Williams é uma doença genética causada pela deleção aproximada de 27 genes do cromossomo 7. Normalmente isso ocorre aleatoriamente no desenvolvimento embrionário, mas em um número pequeno de casos essa doença pode ser herdada de um progenitor.
Entre os vários sintomas dessa síndrome, estão diversas complicações cardíacas, má formação do nervo auditivo, redução da força e tônus muscular, cólicas, diverticulite, problemas urinários, maior espaçamento dental e maior chance de desenvolver diabetes do tipo II.
Por outro lado, há um grupo especial de sintomas e consequências para a vida de uma pessoa com a síndrome: no geral, os afetados são extremamente sociáveis, empáticos, comunicativos e, muitas vezes, não apresentam a maior parte das inibições sociais e impedimentos de comunicação que a maioria dos indivíduos.
O “culpado” é o gene FZD9. Ou melhor: a ausência desse gene. No estudo do neurocientista brasileiro Alysson Muotri, que foi publicado na revista Nature, cinco pacientes com a Síndrome de Williams apresentavam a maioria dos sintomas comuns de hipersociabilidade, mas um não era assim. Na verdade, ele possuía uma sociabilidade equivalente à de um humano sem a síndrome. Essa foi a oportunidade ideal para se descobrir o que levava a maioria dos afetados a interagirem com o mundo da forma que eles interagem.
A análise do DNA desse paciente mostrou que, apesar de confirmada a síndrome, ele ainda possuía duas cópias do gene FZD9, assim como todos os não portadores. Curiosamente, ainda foi descoberto, posteriormente, que há portadores de autismo com até três cópias desse gene, mostrando uma forte relação entre ele e a capacidade comunicativa e a empatia de uma pessoa.
Espera-se, naturalmente, que pessoas com capacidades sociais tão elevadas consigam se destacar e se comunicar sem maiores dificuldade, mas pesquisas mostram que, independentemente da faixa etária, elas geralmente têm poucos amigos ou problemas para estabelecerem novas amizades.
A elevada simpatia e afabilidade desses indivíduos normalmente são consideradas exageradas para a maioria dos contextos sociais, e imagina-se que isso se deve a dificuldades de relacionamento em níveis mais profundos de intimidade, uma vez que os portadores tipicamente não são reservados de nenhuma maneira, não lidam bem com rejeições e sua elevada facilidade em acreditar em outras pessoas os tornam mais sujeitos a abusos e explorações. Esse quadro, de maneira geral, resulta em adultos normalmente sozinhos, socialmente isolados e frustrados com a incapacidade de atenderem às suas próprias expectativas e vontades.
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*Notas Principais (SNP)
- Apesar de toda construção metafísica por trás do conceito do amor, ele também pode ser encarado como um fenômeno biológico: é uma série de processos bioquímicos mediados por proteínas, hormônios e receptores;
- Como em todo fenômeno biológico, a genética desempenha um papel importante. Especialmente os genes HLA, HTR1A e FZD9;
- O HLA atua na composição dos odores corporais, fator importante de atração de parceiros e reconhecimento de familiares; o HTR1A, no metabolismo da serotonina, sendo associado com a prevalência de relacionamentos duradouros; e o FZD9 se relaciona com a sociabilidade, sendo um dos genes afetados na Síndrome de Williams.
Referências
KROMER, J. Influence of HLA on human partnership and sexual satisfaction. Sci Rep. 2016; 6: 32550.
LIU, J. The association between romantic relationship status and 5-HT1A gene in young adults. Scientific Reports volume 4, Article number: 7049 (2015).
Genetics Home (December 2014). Williams syndrome. Genetics Home Reference. Archived from the original on 20 January 2017. Retrieved 22 January 2017.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]