
O tremor essencial é um distúrbio neurológico do movimento bastante comum: estima-se que afete aproximadamente 20% da população com mais de 65 anos, embora possa surgir em qualquer fase da vida.
O quadro é caracterizado por tremores involuntários que acontecem principalmente quando realizamos alguma ação ou ao mantemos uma postura, e pode impactar a execução das tarefas mais simples do dia a dia.
Tremor essencial: o que é?
O tremor essencial é o distúrbio do movimento mais frequente na prática neurológica. A condição provoca um tremor rítmico e involuntário em diferentes partes do corpo.
Embora seja mais comum nas mãos, também pode se manifestar na cabeça, voz, braços e, menos frequentemente, nas pernas ou tronco.
Diferentemente de outros tipos de tremor, como o associado à Doença de Parkinson, o tremor essencial é predominantemente um tremor de ação ou postural.
E isso significa que ele se torna mais evidente quando a pessoa está fazendo um movimento voluntário, como escrever ou segurar um objeto, ou quando tenta manter uma parte do corpo em uma determinada posição contra a gravidade, como estender os braços.
E o tremor tende a diminuir ou desaparecer quando a pessoa está em repouso.
A condição geralmente afeta ambos os lados do corpo e, embora possa surgir em qualquer idade, é mais comum que se manifeste em pessoas com 40 anos ou mais, e sua prevalência aumenta consideravelmente após os 65 anos, podendo impactar a saúde do idoso.
É importante destacar que o tremor essencial não é uma doença degenerativa da mesma forma que o Parkinson e não costuma encurtar a expectativa de vida dos pacientes.
Mas a progressão lenta dos sintomas ao longo do tempo pode afetar a execução de tarefas simples, impactando na autoestima e qualidade de vida.
Possíveis causas para o tremor essencial
A causa exata do tremor essencial ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que a condição esteja relacionada a uma disfunção nos circuitos neurais responsáveis pelo controle do movimento.
Áreas do cérebro como o cerebelo, que coordena os movimentos, e o tálamo, que transmite sinais sensoriais e motores, parecem estar envolvidas.
Um dos principais fatores associados ao tremor essencial é a genética. Muitas pessoas com a condição têm um histórico familiar de tremores, indicando um forte componente hereditário.
Sintomas de tremor essencial
O principal sintoma do tremor essencial é o tremor rítmico e involuntário, que se manifesta de duas formas:
- Tremor de ação: ocorre durante um movimento voluntário, como levar um copo à boca, usar talheres, escrever ou abotoar uma camisa;
- Tremor postural: surge quando se tenta manter uma parte do corpo imóvel contra a força da gravidade, como manter os braços estendidos à frente do corpo.
Em muitos casos, o tremor melhora ou para completamente quando a parte do corpo afetada está em repouso e bem apoiada.
Por outro lado, fatores como estresse emocional, ansiedade, fadiga, consumo de cafeína ou certos medicamentos podem agravar a intensidade do tremor.
A progressão do tremor essencial é geralmente lenta, podendo levar anos até que os sintomas se tornem significativamente incapacitantes para algumas pessoas.
Quando procurar por um médico?
É aconselhável procurar um médico, preferencialmente um neurologista, se você ou algum familiar começar a apresentar tremores que não tinham antes, especialmente se eles persistirem ou piorarem com o tempo.
A consulta se torna ainda mais importante quando os tremores começam a interferir nas atividades diárias, como comer, escrever ou se vestir, ou se causam constrangimento significativo.
Como o tremor pode ser sintoma de diversas condições, incluindo a doença de Parkinson, apenas um profissional de saúde poderá realizar a diferenciação adequada e descartar outras possíveis causas, direcionando corretamente o tratamento.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do tremor essencial é fundamentalmente clínico, o que significa que se baseia principalmente na análise da história médica do paciente, no histórico familiar de tremores e em um exame neurológico detalhado.
Durante o exame neurológico, o médico avalia diversos aspectos, como os reflexos, a força muscular, o tônus muscular, a capacidade de sentir diferentes sensações, a postura, a coordenação dos movimentos e a marcha.
Para observar as características do tremor, o médico pode solicitar ao paciente manobras específicas, como:
- Estender os braços à frente do corpo.
- Tocar o próprio nariz com o dedo.
- Escrever algo ou desenhar uma espiral.
- Beber um copo de água.
Não existe um exame específico que confirme o diagnóstico de tremor essencial.
Mas o médico pode solicitar exames complementares, como exames de sangue (para verificar a função da tireoide ou o metabolismo) ou exames de imagem cerebral (como ressonância magnética ou tomografia computadorizada), para descartar outras condições médicas.
Existem formas de identificar a predisposição para o tremor essencial?
Sim, existem duas formas principais de identificar a predisposição para o tremor essencial:
- Histórico familiar positivo, que indica padrão hereditário.
- Testes genéticos preditivos, como os oferecidos por empresas como a Genera, que apontam variantes genéticas associadas ao risco aumentado da condição.
Os testes genéticos analisam variantes associadas ao desenvolvimento do tremor essencial. A presença destas variantes pode indicar uma maior probabilidade de desenvolver a condição, embora o teste não tenha caráter diagnóstico, mas preditivo.
Quanto ao histórico familiar, sabe-se que cerca de 50% dos casos têm origem hereditária, sugerindo que, se um parente de primeiro grau apresenta tremores, há maior chance de predisposição genética.
Esses métodos permitem uma avaliação antecipada do risco, embora não confirmem necessariamente que o indivíduo desenvolverá a doença.
Tratamentos para o tremor essencial
Atualmente, não existe cura para o tremor essencial e o tratamento vista controlar os sintomas, reduzir a intensidade do tremor e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida e a capacidade funcional do paciente.
Nem todas as pessoas com tremor essencial necessitam de tratamento; se os sintomas forem leves e não interferirem nas atividades diárias, a observação pode ser suficiente.
Mas, quando o tratamento é necessário, as abordagens mais comuns seriam:
- Uso de medicamentos como betabloqueadores, que auxiliam na redução de tremores em alguns pacientes, anticonvulsivantes (antiepilépticos), que podem ser efetivos em algumas pessoas que não respondem aos betabloqueadores, e benzodiazepínicos (calmantes), para reduzir o tremor, especialmente se a ansiedade for um fator agravante.
- Injeções de toxina botulínica (botox): podem ser uma opção para tratar o tremor da cabeça e da voz, e, em alguns casos, o tremor das mãos. A toxina ajuda a enfraquecer seletivamente os músculos hiperativos.
- Fisioterapia e terapia ocupacional: podem ajudar a melhorar a força muscular, o controle dos movimentos, a coordenação e a desenvolver estratégias para adaptar as tarefas diárias.
Já em casos graves e refratários ao tratamento medicamentoso, procedimentos cirúrgicos podem ser necessários. Entre eles:
- Estimulação cerebral profunda (DBS – deep brain stimulation): consiste na implantação cirúrgica de um eletrodo em uma área específica do cérebro (tálamo). Esse eletrodo é conectado a um dispositivo similar a um marca-passo, implantado sob a pele na região do tórax, e envia impulsos elétricos que ajudam a modular a atividade cerebral anormal e reduzir o tremor.
- Talamotomia por ultrassom focado de alta intensidade (HIFU ou FUS – Focused Ultrasound): é uma técnica mais recente e menos invasiva que utiliza ondas de ultrassom focalizadas para criar uma lesão precisa no tálamo, sem a necessidade de incisões cirúrgicas no crânio. Tem mostrado resultados promissores na melhora imediata do tremor.
A escolha do tratamento mais adequado dependerá da gravidade dos sintomas, das partes do corpo afetadas, da idade do paciente, de outras condições de saúde existentes, devendo ser discutida com um neurologista.
Revisado por: Revisado por: Larissa S. Penna, Biomédica, Doutora em Biologia Celular e Molecular e Analista de Pesquisa e Desenvolvimento na Genera