Cada vez mais as pessoas buscam se conhecer melhor, e um bom começo nesta jornada pode ser saber qual a sua origem, da sua família ou até mesmo, da sua arcada dentária.

Entretanto, isso pode ser uma tarefa complicada, principalmente em um país como o Brasil, em que há grande miscigenação, milhares de pessoas vindas de diversas partes do mundo e, muitas vezes, ausência de registros e documentos que poderiam auxiliar descobertas sobre nossa origem.

Dentro desse contexto, é crescente o número de pessoas que buscam por exames de ancestralidade, que podem permitir grandes descobertas sobre nossas origens apenas com uma simples coleta de saliva. 
Esta, porém, é uma aplicação relativamente recente das tecnologias de análise de DNA.

Antes disso, nossas únicas pistas para um conhecimento mais profundo sobre nossa origem biogeográfica estavam, muitas vezes, em nosso aspecto físico – sendo uma das características mais usadas para esta determinação a arcada dentária.

Mas será que existe alguma relação entre arcada dentária e ancestralidade genética?

O que é a arcada dentária?

A arcada dentária é o conjunto de dentes e de seus tecidos de sustentação, que formam o arco da mandíbula e da maxila. Ela pode variar durante a vida, especialmente na infância, quando os dentes de leite são trocados por dentes definitivos, geralmente presentes em um número de 32.

Cada pessoa possui diversas particularidades em sua boca, que podem incluir, além do formato e do número de dentes em si, doenças, cáries, implantes dentários etc. O conjunto dessas características torna a arcada dentária de cada pessoa, única

Sendo assim, muitas vezes, a análise da arcada dentária – realizada por um profissional dentista especializado, denominado “odontolegista” – é utilizada como um importante recurso para identificação de pessoas mortas, quando não é possível realizar a identificação de outra forma. Esse é um campo que vem crescendo no Brasil, principalmente pelo ainda elevado valor da análise de DNA para identificação post mortem.

Este recurso pode ser especialmente importante para resolução de questões criminais e em acidentes em massa, principalmente porque a arcada dentária pode manter sua integridade mesmo após diversos traumas. Ainda assim, o que isso tem a ver com a nossa ancestralidade?

O que é ancestralidade?

A ancestralidade pode ser um objeto de pesquisa filosófica extensa. Entender sua origem, de onde você veio e quem você é, são questões que os filósofos têm buscado desde o início da Grécia Antiga.

No campo da genética, quando falamos sobre ancestralidade, estamos falando em utilizar informações contidas em nosso DNA para descobrir nossas origens geográficas. Os cada vez mais conhecidos “testes de ancestralidade” permitem identificar quais porcentagens de nosso DNA vieram de cada região do mundo e descobrir, assim, a origem de nossos antepassados.

A análise é feita por alguns laboratórios especializados, que comparam o perfil genético do indivíduo testado com um extenso banco de dados genéticos de diversos indivíduos. Em um país como o Brasil, em que poucas pessoas têm conhecimento sobre a árvore genealógica de sua família, esse tem sido um campo em constante expansão. 

Qual a relação da arcada dentária com a ancestralidade?

Apesar de a análise de DNA para determinação da ancestralidade estar se tornando cada vez mais popular, existem outros campos de estudo que podem nos dar dicas sobre nossas origens. Um desses campos consiste no estudo da arcada dentária.

Com base em determinadas características, como o formato dos dentes incisivos, a disposição das cúspides nos pré-molares, o taurodontismo, diastema, entre outras, podemos ter pistas interessantes sobre nossa ancestralidade.

Nesse contexto, estudos apontam que os dentes molares são aqueles que podem nos trazer mais informação. Por exemplo, arcadas dentárias em que os molares superiores apresentam cúspides (isto é, as pontas dos dentes) separadas por uma depressão bem marcada, podem indicar origem caucasóide. Já a ausência de depressão nestes dentes pode estar relacionada a origem negróide.

Na população brasileira, porém, caracterizada pela alta miscigenação, o reconhecimento de características físico-anatômicas pode ser um grande desafio, pois diferentes características típicas de grupos distintos podem se encontrar mescladas em um mesmo indivíduo.

Dessa forma, a análise de nossa arcada dentária, isoladamente, pode não nos levar a conclusões definitivas sobre nossas origens… mas pode nos fazer pensar em como a herança de nossos ancestrais contribuiu para nos tornar quem somos: desde a cor de nossa pele, até o formato de nosso sorriso. 

 

Referências

Machado D. A. T., Anomalias Dentárias e a Sua Importância no Processo de Identificação Humana, Universidade João Pessoa, Porto, 2014.