
A hipercalcemia é uma condição caracterizada pela elevação dos níveis de cálcio no sangue.
Embora o cálcio seja um mineral fundamental para várias funções, como a formação óssea, a contração muscular e o funcionamento do sistema nervoso, seu excesso pode causar sérios problemas de saúde.
Siga a leitura e saiba mais sobre a hipercalcemia, suas causas, sinais e sintomas, diagnóstico e tratamentos.
O que é hipercalcemia?
A hipercalcemia é definida pelo aumento dos níveis de cálcio no sangue, um mineral encontrado principalmente nos ossos e nos dentes. É uma condição comum e frequentemente subdiagnosticada. Isso porque, em muitos casos leves, ela é assintomática.
Os níveis de cálcio total no sangue são considerados elevados quando ultrapassam 10,5 mg/dL.
O diagnóstico é confirmado quando a concentração de cálcio total sérico está dois desvios padrão acima da média da população, sendo o valor normal entre 8,5 e 10,5 mg/dL.
A ausência de sinais e sintomas óbvios em muitos casos pode atrasar a procura por ajuda médica até que a condição se torne grave.
A detecção precoce muitas vezes depende de exames de sangue de rotina, que podem revelar níveis elevados de cálcio antes mesmo que os sinais se manifestem.
Possíveis causas para a hipercalcemia
A hipercalcemia pode surgir por diversos motivos. Em 90% dos casos, a elevação do cálcio está relacionada ao hiperparatireoidismo primário ou a neoplasias malígnas.
Outras causas podem envolver doenças inflamatórias, condições congênitas, imobilizações ou uso excessivo de medicamentos e suplementos. A seguir, confira algumas das causas da hipercalcemia.
Hiperparatireoidismo primário
É a causa mais comum de hipercalcemia em pacientes ambulatoriais.
Acontece quando as glândulas paratireoides produzem o paratormônio (PTH) em excesso, e isso estimula a liberação de cálcio dos ossos, aumenta sua absorção intestinal e aumenta a reabsorção de cálcio pelos rins.
A condição costuma ser causada por adenomas (tumores benignos) e hiperplasia glandular, e afeta principalmente mulheres em idade avançada.
Câncer
Pacientes com tumores malignos podem desenvolver hipercalcemia. E isso se deve à produção de uma substância semelhante ao PTH chamada PTHrP (proteína relacionada ao hormônio da paratireoide), que imita seus efeitos.
O quadro é comum no câncer de pulmão, esôfago, mama, colo do útero, endométrio, ovário, rim, cabeça e pescoço, intestino e bexiga.
Pode acontecer mais raramente em casos de câncer neuroendócrino pancreático e linfomas Hodgkin e não Hodgkin.
Uso excessivo de vitamina D
Altas doses de vitamina D aumentam a absorção de cálcio pelo intestino e a reabsorção óssea, levando à hipercalcemia. Isso pode ocorrer mesmo em pessoas saudáveis que abusam de suplementos sem indicação médica.
Condições congênitas
Algumas condições congênitas também podem causar hipercalcemia. A deficiência congênita de lactase, por exemplo, é uma condição genética que impossibilita a produção da enzima lactase.
Nesses casos, pode haver um aumento da absorção de cálcio no intestino delgado na presença da lactose não processada.
Já na hipercalcemia infantil idiopática, uma condição também genética, a hipercalcemia está associada a uma sensibilidade à vitamina D.
Nessa condição, a inativação da forma ativa de vitamina D é prejudicada, ocasionando altos níveis da forma ativa dessa vitamina no sangue, e consequentemente, um aumento na absorção de cálcio.
Doenças granulomatosas
As doenças granulomatosas são condições caracterizadas pela formação de granulomas, pequenas massas de células inflamatórias que ocorrem em reposta a alguns estímulos.
No caso de algumas dessas doenças, infecciosas ou não, como, por exemplo, sarcoidose e tuberculose, os macrófagos (células do sistema de defesa do corpo), quando ativados, passam a produzir a vitamina D de forma exagerada. Isso faz com que o intestino absorva muito mais cálcio do que o normal, levando ao aumento do cálcio no sangue (hipercalcemia).
Uso de certos medicamentos
Diuréticos, como a hidroclorotiazida, reduzem a eliminação de cálcio pela urina e podem causar hipercalcemia. No entanto, esse é um evento raro que pode ser rapidamente revertido com a descontinuação da medicação.
Já o lítio, usado em transtorno bipolar, pode estimular a secreção de PTH e reduzir a eliminação de cálcio pela urina.
Outros suplementos em excesso, como vitamina A e calcitriol, além de medicamentos utilizados no tratamento de câncer, como o tamoxifeno, também podem causar hipercalcemia.
Imobilização prolongada
A imobilização, comum em pessoas acamadas ou com fraturas, pode aumentar a reabsorção óssea e causar liberação de cálcio na circulação.
Essa condição pode ser comum em pessoas que sofreram queimaduras, lesão medular, acidente vascular cerebral grave, fratura de quadril e cirurgia bariátrica.
Doenças endócrinas
Além do hiperparatireoidismo, outras condições endócrinas não relacionadas ao aumento da produção de PTH, podem causar hipercalcemia.
O hipertireoidismo, por exemplo, pode causar hipercalcemia por acelerar a remodelação óssea. O hipoadrenalismo também tem sido associado à hipercalcemia, porém a forma como essa condição causa a hipercalcemia ainda não está bem esclarecida.
Como identificar a predisposição para hipercalcemia?
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Com o teste você pode verificar, por exemplo, se possui predisposição para níveis elevados de cálcio no sangue e diversas outras condições.
Sinais e sintomas de hipercalcemia
Os sinais e sintomas da hipercalcemia variam de acordo com o grau de elevação do cálcio no sangue e a velocidade com que esse aumento acontece.
Em muitos casos, eles são discretos e podem passar despercebidos no início. Quando o cálcio está muito alto ou sobe rapidamente, eles se tornam mais evidentes.
Entre os sinais e sintomas mais comuns podemos citar:
Neurológicos
- Diminuição dos reflexos;
- Estado de consciência parcial;
- Confusão mental;
- Letargia;
- Depressão;
- Dificuldade de concentração;
- Alterações de memória;
- Coma, em casos graves.
Gastrointestinais
- Anorexia;
- Náuseas;
- Vômitos;
- Pancreatite;
- Constipação intestinal;
- Dor abdominal;
- Perda de apetite.
Renais
- Diabetes insipidus nefrogênico;
- Desidratação;
- Aumento da sede (polidipsia);
- Aumento da necessidade de urinar (poliúria);
- Insuficiência renal (aguda ou crônica).
Cardíacos
- Arritmias;
- Hipertensão arterial;
- Alterações no eletrocardiograma (Intervalo PR prolongado, intervalo QT encurtado, Complexo QRS alargado);
Musculoesqueléticos
- Fadiga;
- Fraqueza muscular;
- Dor muscular.
Qual médico procurar?
O endocrinologista é o especialista mais indicado para investigar e tratar hipercalcemia, especialmente em casos relacionados a distúrbios hormonais.
Se houver suspeita de câncer, o oncologista será incluído no cuidado. Casos relacionados a doença renal devem ser acompanhados por um nefrologista.
Em quadros complexos ou sem causa definida, o clínico geral pode coordenar o encaminhamento para os especialistas necessários.
Diagnóstico
O diagnóstico da hipercalcemia começa com a avaliação física e o histórico do paciente. Muitas vezes, os níveis altos de cálcio no sangue são detectados por acaso, em exames de rotina.
Mas, quando o paciente já apresenta sinais e sintomas (como fraqueza, confusão mental ou muita sede), o médico pode solicitar exames para confirmar a suspeita de alterações.
Depois de confirmar que o cálcio está alto, é preciso investigar a causa do problema — e isso envolve uma combinação de exames laboratoriais e de imagem.
Exames
O primeiro passo é medir o nível de cálcio total e cálcio ionizado no sangue. Esses valores oferecem uma avaliação mais precisa da gravidade da hipercalcemia. Além disso, o médico pode pedir outros exames complementares, como:
- Paratormônio (PTH): é um hormônio produzido pelas glândulas paratireoides. Quando o PTH está elevado junto com o cálcio, isso sugere hiperparatireoidismo primário.
- Função renal (creatinina, taxa de filtração glomerular, exame de urina e urina de 24h): importante para avaliar se os rins estão funcionando bem e se há excesso de cálcio e creatinina na urina.
- Fósforo: ajuda a entender melhor o equilíbrio desse mineral no corpo.
Se o médico suspeitar que a hipercalcemia esteja sendo causada por outra condição que não seja o hiperparatireoidismo, ele pode pedir outros exames direcionados ao histórico do paciente e à suspeita, como:
- Vitamina D: tanto a forma inativa (25-OHD) quanto a ativa (1,25-OH2D);
- Proteína relacionada ao hormônio da paratireoide;
- Marcadores bioquímicos tumorais;
- Eletroforese de proteínas no sangue;
- Eletroforese de proteínas na urina;
- Exames de imagem, como radirografia ou tomografia.
Tratamentos para a hipercalcemia
O tratamento da hipercalcemia vai depender da causa do problema, do nível de cálcio no sangue e dos sintomas que a pessoa apresenta.
Em casos leves, pode não ser necessário nenhum tratamento imediato — apenas o acompanhamento médico.
Mas quando os níveis estão muito altos ou os sintomas são mais intensos, é preciso intervir para reduzir o cálcio e evitar complicações mais graves, como problemas nos rins, coração ou sistema nervoso. E as principais opções de tratamento seriam:
- Hidratação com soro na veia: estimula os rins a eliminar o cálcio pela urina e diminui a reabsorção de sódio e cálcio. Esse método é especialmente útil quando a pessoa está desidratada ou tem sintomas mais intensos, porém, deve ser utilizada com cautela em pacientes com função cardiovascular ou renal comprometida.
- Uso de diuréticos: em alguns casos, após a hidratação, esses medicamentos podem ser usados para aumentar a produção de urina – o que acelera a eliminação do cálcio pelo corpo. Geralmente, usa-se a furosemida, e sempre com acompanhamento rigoroso.
Mas, se a hipercalcemia estiver sendo causada por uma doença específica, o tratamento principal será direcionado a controlar essa condição de base. Por exemplo, se a causa for o hiperparatireoidismo, pode ser necessário cirurgia para retirar a glândula paratireoide afetada.
Já no caso do uso exagerado de vitamina D, o médico pode suspender o suplemento e monitorar os níveis de cálcio. Já se a causa for câncer, além da hidratação, medicamentos específicos podem ser utilizados para inibir a reabsorção óssea, que é comum nesses casos.
Os bisfosfonatos são medicamentos usados principalmente em casos de hipercalcemia relacionada ao câncer. Eles agem nos ossos, inibindo a reabsorção óssea.
Costumam ser administrados por via intravenosa e, embora o início de sua ação leve em torno de quatro dias, seus efeitos podem durar de dias a semanas. Em pacientes com doença renal crônica, recomenda-se a avaliação de sua aplicação pelo médico.
A calcitonina é outro medicamento que pode ser usado em situações em que se deseja uma resposta mais rápida para baixar o cálcio no sangue. Ela pode inibir a reabsorção óssea e aumentar a eliminação de cálcio pelos rins.
Embora seu efeito dure menos tempo que os bisfosfonatos, sua ação é mais rápida, por isso costuma ser indicada quando os níveis estão muito altos ou quando há risco de complicações graves.
Em situações extremas, como em pacientes com hipercalcemia grave, com insuficiência renal ou quando o tratamento com medicamentos não funciona, pode ser necessário fazer diálise.
Esse procedimento ajuda a filtrar o sangue de forma artificial e remover o excesso de cálcio. É uma medida de urgência e feita apenas quando realmente necessário.
Revisado por: Larissa Bonasser, Bióloga, Mestre em Ciências da Saúde e Analista de Pesquisa e Desenvolvimento na Genera