Um dos temas de ancestralidade genética que muitas pessoas têm dúvidas é a respeito de linhagens e haplogrupos. Contudo, eles são muito importantes para mapearmos a nossa história e compreender melhor sobre a relação entre imigração e diversidade genética

O haplogrupo representa um conjunto de alelos específicos de um cromossomo herdado de um único progenitor e com origem em um único ancestral, a partir de uma mutação. Esses conjuntos de alelos, que são os haplogrupos, são denominados por meio de um código, normalmente utilizando letras do alfabeto, que permite identificar o ancestral em qual essa mutação ocorreu, definir uma linhagem e agrupar populações genéticas.

Estudar os haplogrupos é importante para entender os fluxos migratórios e os agrupamentos populacionais no mundo, desde a saída do homem moderno da África até sua chegada à América do Sul, o último continente que foi ocupado.

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Linhagens paterna e materna

Em genealogia genética humana, dividimos as linhagens entre materna e paterna.

A linhagem paterna é obtida pelo cromossomo Y, herdado do pai pelos filhos do sexo biológico masculino (XY). Para pessoas do sexo biológico feminino (XX), devido à ausência do cromossomo Y, não é possível identificar a linhagem paterna.

A partir do Adão biológico, ancestral de linhagem paterna comum à maioria das pessoas, originou-se, na África, o haplogrupo mais antigo, o A, disperso por todo continente africano. Dele surgiram os demais haplogrupos, enquanto o homem deixava a África e ocupava os demais continentes. Por isso, algumas linhagens são mais frequentes em regiões específicas do planeta.

Já a linhagem materna é determinada por meio do DNA mitocondrial, ou seja, pelo DNA presente na mitocôndria, uma organela presente nas células humanas.

O DNA mitocondrial é herdado da mãe por seus filhos, e por isso identifica a linhagem materna. Filhos de ambos os sexos biológicos herdam DNA mitocondrial, mas apenas as pessoas nascidas com sexo biológico feminino o transmitem. Portanto, é possível identificar a linhagem materna de qualquer pessoa.

Da mesma forma que a linhagem paterna, é possível compreender os fluxos migratórios a partir dos haplogrupos maternos, que surgiram também de uma ancestral em comum, na África, denominada Eva biológica.

| Saiba mais: Quem foram Adão e Eva biológicos?

A diferença entre ancestralidade global e linhagens

Quando falamos de ancestralidade, temos a ancestralidade global, que analisa a herança genética presente em nossos cromossomos, e as linhagens paterna e materna, que analisam o cromossomo Y e o DNA mitocondrial, respectivamente.

No vídeo abaixo, o médico Ricardo di Lazzaro explica um pouco sobre essa diferença:

As linhagens ancestrais do povo brasileiro

A partir de um levantamento realizado pela Genera com uma base de mais de 200 mil pessoas que fizeram o teste de ancestralidade, foi possível traçar um perfil genético da população brasileira.

Além de insights interessantes sobre a ancestralidade global do país, que você confere aqui, as linhagens paternas e maternas revelam informações importantes sobre nossa própria história e questões socioculturais a respeito da constituição do povo brasileiro.

Linhagens paternas e haplogrupos mais comuns no Brasil

Os haplogrupos que definem as linhagens paternas mais frequentes entre os brasileiros são os seguintes:

  • R: Comum na Europa, Sul Asiático e Ásia Central
  • G: Cáucaso, Europa, Sul Asiático, Ásia Central e Norte da África
  • I: Oriente Médio, Cáucaso e Europa
  • J: Oriente Médio, Norte e Chifre da África, Cáucaso e Sul da Europa
  • T: Chifre da África, Sul Asiático e Sul da Europa
  • E: Principalmente África
  • Q: Américas, Ásia Central e Sibéria

A partir do estudo da Genera, os haplogrupos paternos mais comuns na população brasileira apresentam as seguintes expressões:

Linhagem paterna

Nota-se que as frequências distribuídas por regiões se mantêm próximas à média geral para todos os haplogrupos.

Ao avaliar esses resultados, é possível perceber uma concentração de mais de 80% de haplogrupos comuns na Europa. Em seguida, tem-se cerca de 15% de haplogrupos comuns na África, 3% nas Américas e Ásia, e 0,4% referente a outras regiões.

Essa presença da Europa na linhagem paterna do brasileiro pode ser explicada, principalmente, pelos fluxos migratórios e características da cultura patriarcal, sobretudo a partir da colonização do país.

Durante o processo de colonização das Américas por países da Europa, majoritariamente foram os homens enviados para explorar e ocupar o novo continente, principalmente nas primeiras décadas. Muitos destes homens tiveram relações e até se casaram com mulheres indígenas, como forma de viabilizar os processos de conquista e colonização.

Nas décadas seguintes, com expansão do sistema escravagista e migração forçada de africanos ao território colonial, foram frequentes as relações de violência, inclusive sexual, praticada pelos proprietários de escravos.

Como característico do sistema patriarcal europeu, eram os homens quem herdavam as propriedades de terra e se tornavam seus senhores, o que ampara seu poderio sobre as mulheres, sejam elas europeias, indígenas ou africanas escravizadas. Era comum que o dono das terras, o homem branco europeu, tivesse relações com mais de uma mulher, gerando descendências com elas.

Portanto, o processo de dizimação dos povos indígenas e escravização dos africanos influenciou uma maior herdabilidade genética do haplogrupo europeu na linhagem masculina, tornando-se mais frequente em comparação a outras linhagens.

Outro aspecto interessante é observar que o haplogrupo originário das Américas também está presente em populações da Ásia, o que fortalece a hipótese da ocupação ancestral das Américas a partir do Estreito de Bering, que uniu os dois continentes durante a Era Glacial. A mesma observação é possível para os haplogrupos maternos.

linhagens genera

Linhagens maternas e haplogrupos mais comuns no Brasil

Já em relação às linhagens maternas, identificadas a partir do DNA mitocondrial, os haplogrupos mais frequentes no Brasil são os seguintes:

  • H: Principalmente Europa
  • U: Europa, Norte da África e Sul Asiático
  • T: Ásia Central e Europa
  • L1: África Central e Oeste da África
  • L2: África
  • L3: Nordestes e Leste da África
  • A: Américas e Leste Asiático
  • B: Américas e Sudeste Asiático
  • C: Américas e Nordeste Asiático
  • D: Américas, Sudeste Asiático e Ásia Central

Considerando o estudo da Genera, esses haplogrupos maternos se expressam entre a população brasileira com as seguintes frequências:

linhagem materna

Diferentemente dos haplogrupos paternos, os maternos são bem mais distribuídos entre as diversas etnias, com alguns destaques em regiões específicas do Brasil.

A região Sul é a que concentra a maior frequência de haplogrupos mais comuns na Europa, com 55%. Seguem-se Américas e Ásia, com 26%, África, com 11%, e outros haplogrupos com quase 7%.

Já a região Sudeste se equilibra entre haplogrupos provenientes de três regiões: 35% da Europa, 31% da América e Ásia, e 27% da África. Enquanto apenas 4% correspondem a outras linhagens mapeadas.

A região Centro-Oeste mantém esse equilíbrio entre linhagens, porém com uma distribuição mais regional, que compreende 37% de haplogrupos provenientes das Américas e Ásia, 31% da África e 27% da Europa.

Na região Norte, é possível notar que a ocorrência de linhagens provenientes das Américas e Ásia é superior, correspondendo a 51%, seguidas de África, com 26%, e da Europa, com 18%. Esse dado compreende a volumetria de povos originários presentes nessa região.

Com a mesma equivalência encontra-se o Nordeste, região que concentra o maior número de descendentes de linhagem africana, que corresponde a 40%. Seguem América e Ásia, com 35%, e Europa, com 21%.

Vale ressaltar que, enquanto as linhagens paternas provenientes da Europa são majoritárias em todas as regiões, as maternas são mais frequentes apenas nas regiões Sul e Sudeste, e com uma diferença bem menor em relação com as dos demais continentes. Esses resultados fortalecem as observações analisadas nas linhagens paternas.

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