“Ah, mas nós somos primos de terceiro grau. Nem somos parentes de verdade”. Será mesmo?

Falar em graus de parentesco pode ser um assunto complicado e que pode abrir margem para muita discussão. O que deve ser levado em conta para afirmarmos que somos da mesma família? O DNA? A proximidade com a pessoa? A lei?

Sabe aquela prima sua, de terceiro ou quarto grau, com quem você passou os melhores momentos da infância junto? Ela pode não estar tão perto de você na árvore genealógica, mas, pela convivência, você a considera como uma irmã. Também existe aquele primo inconveniente que, mesmo sendo de primeiro grau, você prefere não sair contando para todo mundo que são primos. Está tudo bem. Família é assim mesmo.

A partir de todas essas indagações, tentamos, aqui, responder à seguinte pergunta: “a partir de quando deixamos de ser parentes de alguém?” Conversa vai, conversa vem, chegamos a uma resposta não tão assertiva: “depende!”.

Do quê? Bom, vamos lá.

Para deixar o assunto mais fácil de ser compreendido e visualizado, fizemos uma análise de DNA junto com o pessoal do Manual do Mundo. Confira o vídeo completo:

Família, eh… Família, ah… Família?

Nem o dicionário tem uma única definição exata para a palavra família. O termo pode significar tanto o conjunto de pessoas que compartilham ancestrais quanto pessoas, com relação sanguínea ou não, que têm alguma ligação entre si – esta ligação podendo ser, por exemplo, um casamento ou uma adoção. Família pode se referir, também, às pessoas que vivem sob um mesmo teto ou, ainda, a grupos de indivíduos que têm interesses em comum – a família do trabalho, as amigas da academia, os parças do futebol, sabe?

Uma coisa é certa: temos a nossa família família, e temos também outras famílias.

De fato, a dificuldade de se elaborar um conceito para família é uma questão que instiga pesquisadores de várias áreas diferentes. Segundo Luana Maria de Souza, cientista social e mestranda em Antropologia, “qualquer definição fixa de família pode ser alterada, deslocada e repensada de acordo com contextos e culturas, os quais estão sempre em constante transformação”.

O consenso que existe, entretanto, no campo da antropologia e das ciências sociais é que família não se restringe somente a questões biológicas – a sangue e a DNA –, complementa Luana. Ela é estruturada em outros pilares que sustentam as conexões interpessoais, como as relações sociais, políticas, culturais e afetivas.

Você tem um match (de DNA)!

O caminho é outro quando analisamos esse assunto sob a perspectiva da genética. Os geneticistas estudam, afinal, a hereditariedade, ou seja, como o conteúdo presente no núcleo das nossas células – o DNA – é passado de geração a geração.

Para afirmar se duas pessoas são parentes, os cientistas do mundo da genética verificam se elas têm segmentos de DNA em comum. De acordo com Flávia Sant’Anna, Isabela Nunez e Larissa Penna, do time de Pesquisa e Desenvolvimento do laboratório de genética Genera, “indivíduos aparentados são aqueles que compartilham DNA proveniente de um ascendente em comum”.

É assim que os testes genéticos conseguem determinar se duas pessoas são parentes: “quanto maior a quantidade de material genético compartilhado, maior o grau de parentesco”, resumem as pesquisadoras. Elas explicam que mãe e filho compartilham uma quantidade maior de DNA que tios e sobrinhos ou que avós e netos, por exemplo.

Quer dizer que dá para medir o grau de parentesco através da genética?

Dá sim. Existe até uma unidade de medida para calcular a proximidade genética: os centimorgans. Um centimorgan é equivalente a, mais ou menos, um milhão de pares de bases de DNA. Por exemplo, se você compartilhar um total de 100 cM com alguém, vocês possuem aproximadamente cem milhões de pares de bases de DNA iguais.

Relação entre o total de centimorgans compartilhado e o grau de parentesco segundo escala da Genera
Relação entre o total de centimorgans compartilhado e o grau de parentesco na plataforma da Genera.

Se duas pessoas se submetem a um teste genético e os resultados mostram que elas compartilham segmentos de DNA, isso significa que elas têm um ancestral em comum. Quando a quantidade de material genético compartilhado é pequena, pode ser que esse antepassado seja de uma geração muito distante. Entretanto, no caso de gerações muito, muito distantes, de centenas de anos atrás, a quantidade de DNA é tão reduzida que testes genéticos podem nem sequer conseguir detectá-la, afirmam Flávia, Isabela e Larissa, da Genera.

E por lei, quem é meu parente?

Tudo bem, já entendemos que quase todo mundo pode ser da nossa família. Ou que podemos ter um primo de quinto ou sexto grau se compartilharmos DNA com ele. Mas essas pessoas têm, então, direito à nossa herança? Afinal, elas são família, não é?

Não é bem assim. A abordagem antropológica, explicada pela Luana, ou a genética, esclarecida pela Genera, podem não servir totalmente quando trazemos esse assunto para o mundo das leis.

Para mergulhar um pouquinho no âmbito jurídico, precisamos, primeiramente, entender duas expressões: parentes em linha reta e parentes colaterais. Os primeiros são os nossos ascendentes e os nossos descendentes, isto é, nosso pai, mãe, avós, filhos, netos e assim por diante. Enquanto isso, os parentes colaterais têm o mesmo ancestral em comum, mas não descendem ou ascendem entre si. É o caso dos irmãos, tios, sobrinhos e tios-avós, por exemplo.

A advogada Sybelle Serrão destaca que essa distinção é contemplada pela legislação brasileira. Ela ressalta que, no caso dos parentes em linha reta, a relação de parentesco é infinita, não importando quantas gerações a gente volte ou avance. Assim, podemos falar de trisavós, tetravós, pentavós…

Quando falamos dos parentes colaterais, existe uma outra perspectiva levando em consideração a lei brasileira: são consideradas parentes apenas as pessoas com até quatro níveis de distância de nós. A advogada Sybelle deixa mais claro: “os únicos parentes de primeiro grau que se teria seriam pais e filhos, não existindo, assim, primo de primeiro grau”. Nossos primos, segundo a lei brasileira, são nossos familiares de quarto grau, pois temos quatro pessoas até chegarmos neles: nós mesmos, nossos pais (primeiro grau), nossos avós (segundo grau), nossos tios (terceiro grau) e, finalmente, nossos primos.

Tabela indicando os graus de parentesco e exemplos de parentes colaterais e em linha reta.
Parentes em linha reta, parentes colaterais e os graus de parentesco, de acordo com a lei brasileira.

A legislação, inclusive, comenta Sybelle, pode desconsiderar a compatibilidade de DNA nos casos de pessoas adotadas ou geradas a partir do material genético de terceiros.

Mas o que é família, então?

Depende do objetivo que você está buscando ao tentar responder a essa pergunta. Você pode estar tentando achar um parente perdido ou buscando solucionar um crime ou, ainda, querendo estreitar os seus laços com seus amigos. Já vimos que não há uma só visão sobre o tema.

Parentesco é um sistema de códigos e uma construção social, pondera a cientista social Luana de Souza – “e a discussão pode ficar mais complexa se também considerarmos outros grupos sociais, que estão constituindo família para além de imposições biológicas ou por binarismos de gênero e sexualidade, e que vêm utilizando outros métodos conceptivos”, relembra a pesquisadora.

Não podemos nos atrever nem a falar de uma “família brasileira”, avalia Luana. Temos no Brasil centenas de etnias diferentes, com centenas de idiomas diferentes e, para cada uma delas, há conceitos, terminologias e percepções diferentes sobre a família.

Depois de tantas conclusões não tão conclusivas, uma coisa está certa: sua família pode ser parecida com as outras ou pode ser diferente. Pode ter os primos de primeiro grau, as primas de sexto grau, os caras do futebol e as amigas da academia. Tanto faz. É tudo família – até certo ponto, é claro.

Põe mais água no feijão que tem parente chegando

Sabia que é possível encontrar, através de testes genéticos, nossos parentes espalhados pelo mundo? No Brasil, temos a plataforma Busca Parentes, disponível com o Teste de Ancestralidade, Saúde e Bem-Estar da Genera.

Quando a pessoa realiza o teste – a partir de uma simples amostra de saliva, que pode ser coletada em casa –, a ferramenta compara o seu DNA com o de todas as pessoas cadastradas na plataforma, com o objetivo de encontrar novos familiares.

Com a ferramenta Busca Parentes, da Genera, você pode entrar em contato com pessoas que compartilham DNA com você.

Além disso, dá para descobrir a origem dos seus antepassados, o caminho percorrido por eles ao longo do tempo e várias predisposições genéticas ligadas a doenças, hábitos alimentares, desempenho físico e muito mais.

Conheça já os testes genéticos da Genera e desvende o que está por trás do seu DNA!

teste genera